sábado, 25 de julho de 2009

Kieslowski


Entrevistador: Por que você queria fazer isso (descrever a vida na Polônia)?

Krzystof Kieslowski: É duro viver em um mundo que não foi descrito, você tem que tentar descrevê-lo para saber como se sente. (Sem descrevê-lo) É como não ter identidade. Seus problemas e sofrimentos desaparecem. Eles se desintegram. Para ser mais radical, você se sente completamente exilado das outras pessoas. Você não pode se referir a nada porque nada foi descrito ou mencionado adequadamente. Você está sozinho.

(trecho do documentário "I'm So-So")

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Um haicai

distantes do sol
céu e prédios amanhecem
cinza-azulados com o
bocejo dos pássaros

terça-feira, 14 de julho de 2009

Um poema de Anna Akhmatova

Apertei as mãos sob o xale escuro...
"Por que estás tão pálida?"
- Porque hoje lhe dei a beber amargura
até que ele foi embora daqui embriagado".

Posso acaso esquecê-lo? Saiu daqui cambaleando,
sua boca torcendo-se dolorosamente...
Desci correndo, sem nem me encostar no corrimão,
corri atrás dele até o portão.

Angustiada gritei: "Tudo não passou
de uma brincadeira. Se fores embora, morro."
Sorriu docemente e, com um muxoxo terrível,
disse-me: "Não fique no vento".

8/1/1911
Kiev

(tradução de Lauro Machado Coelho)








Resolvi postar esse poema aqui no blog principalmente por gostar muito do seu sétimo verso, que tem a imagem que mais ficou na minha cabeça da minha leitura inacabada da Antologia Poética da poeta, lançada pela L&PM Pocket. Ainda fico espantado quando penso que apesar da distância geográfica e de tempo, uma poeta consegue construir uma imagem com tamanho poder de identificação pra alguém tão distante, no caso, eu.
Ainda não terminei o livro e dei uma parada na leitura esses dias, mas vira e mexe eu pego o livro dela da mesa e dou uma lida num poema aleatório. Até a parte em que eu lí, são todos poemas bem curto e concisos, linguagem clara e sem muitos adornos, como o que eu postei. Me faz lembrar do Villaça falando que "poesia, antes de mais nada, é feita de imagem". Ou algo assim.
Vale a pena também deixar o link pra um outro poema dela traduzido por André Vallias e Augusto de Campos AQUI, que foi o poema que fez com que eu conhecesse e me interessasse pela poeta.





Poemas à parte, acho essa foto da Akhmatova linda.

domingo, 5 de julho de 2009

Um haicai

ao fim de um dia nublado
o alaranjado ocaso
nada revela