terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Trecho

"Vejo-me noutra cidade.
Sem mar nem derivativo,
o corpo era bem pequeno
para tanta insubmissão.
E tento fazer poesia,
queimar casas, me esbaldar,
nada resolve: mas tudo
se resolveu em dez anos
(memórias do smoking preto).
O tempo fluindo (...)"

"Desfile", em A Rosa do Povo, C.D.A (1945)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Prenúncio em si

Próximos da aurora,
alguns ônibus ainda circulam com pressa
por ruas quase vazias,
ônibus quase vazios.
Seus ruídos percorrem esquinas,
sugerem sonhos em camas quaisquer.
Em resquícios, as mucosas se umedecem
do orvalho nos rostos compenetrados.
O jornaleiro escovava os dentes.
Da periferia, uma van trazia o jornal -
as notícias chegariam apenas com a manhã.
Um primeiro canto de pássaro
apenas ressoa...
Destes semblantes distante,
após uma noite insone, caminho,
e sinto-me algo próximo do céu.
Nele, a aurora logo surgirá
estranha e nova.