quinta-feira, 27 de maio de 2010

Museu de novidades

Eu não costumo gostar muito dos meus poemas mais velhos, acho que pouca coisa se salva. Mas a idade deles criou distância o suficiente pra eu ler como se não fossem tão meus, o que é uma experiência bem interessante.
Então resolvi reabrir o meu blog antigo:
http://www.dudapih2.blogspot.com/

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Cantochão para o chão

Quem reparou na progressão das gretas
sobre a sua superfície & mediu
a deslavagem & a erosão milimétricos?
Quem leu as pautas que se formavam?
Quem viu o reboco cair como icebergs
no oceano da calçada?

A sós se desfazia /
se desfaz o muro,
sua música para ninguém cantada,
surdina para surdos, cantochão para o chão
nu descendo a escada numa casa vazia,
natividade num museu ártico.

Canção 4 do poema Canções do Muro, de Horácio Costa.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Soneto

Em meu quarto imerso em breu, paredes,
seus pequenos vincos e arestas se
mesclam indistinguíveis uns dos outros,
distantes nas pupilas de meus olhos.

No enjôo que sinto de ausência e vinho
guardo com afeto o possível vômito
em meu estômago, como o apego
com que me guardas em garras de esmalte

vermelho à cor de meu próprio sangue.
E se ligados por cor vital sei
do meu sangue, das tuas garras, só

no que em mim é breu posso sentir
o vazio cravado na minha pele.
Longe de ti, adormeço, e não sonho.