terça-feira, 20 de outubro de 2009

Chico Alvim

Leopoldo

Minha namorada cocainômana
me procura nas madrugadas
para dizer que me ama
Fico olhando as olheiras dela
(tão escuras quanto a noite lá fora)
onde escondo a minha paixão
Quando nos amamos
peço que me bata
me maltrate fundo
pois amo demais meu amor
e as manhãs empalidecem rápido

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Um haicai uspiano

meio do caminho -
um Ultramarinho leva-
me que traz saudades

sábado, 26 de setembro de 2009

sábado, 12 de setembro de 2009

a la Twitter

No meio de uma nota de rodapé de um texto do Spitzer: "Cada palabra era en otro tiempo un poema..." (Emerson)

sábado, 5 de setembro de 2009

Eu ainda deixava a infância,
uma vez meu
convidou uns amigos
pra visitarem a nossa casa de campo.
Palavras mantidas a certa distância
diziam do amigo de um amigo
que veio também:
- Ele é deprimido,
toma remédios.
Pra mim
ele era um homem que sentava na cadeira e olhava pro longe...
Hoje
eu olho pro longe aonde a memória não compreende.
Hoje você
pra mim
é a terceira pessoa do singular.
Eu não sei
como fui crescer um rapaz assim
e você
mais do que uma ausência, omissão
no solo árido de antepassados nossos.
Daqui
eu me sinto como se estivesse sozinho.

sábado, 29 de agosto de 2009

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Um haicai à Drummond

do alto das cinco
horas da tarde uma flor
rompe o asfalto



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O lançamento domingo passado foi ótimo. O pessoal compareceu e lotou o Ícone fazendo um baita calor humano, literalmente e literariamente. Agradeço a todos! E hoje tem sarau na Letras às 21:00h com o pessoal da antologia.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Antologia "Ávida Espingarda"

Com o objetivo de incentivar a criação literária na USP, convidamos todos para o lançamento da coleção Feito nas Letras – do selo Experimental, da Editora Annablume – que pretende publicar poesia e prosa dos alunos, professores e funcionários que estudam e trabalham na FFLCH.

No dia 23 de agosto, das 17h00 às 20h00, no Ícone, Espaço Cultural, que fica na Rua Augusta 1415, próximo ao metrô Consolação, acontece o lançamento dos três primeiros volumes da coleção:

Ávida Espingarda – antologia da qual fazem parte eu mais outros 7 alunos dos cursos de Letras

Há Saci na Fome – livro de poesias de Luís Venegas, aluno do curso de Espanhol;

Os Tempos da Diligência – livro de poesias de Antonio V. S. Pietroforte, professor do DL.


Compareçam!

sábado, 25 de julho de 2009

Kieslowski


Entrevistador: Por que você queria fazer isso (descrever a vida na Polônia)?

Krzystof Kieslowski: É duro viver em um mundo que não foi descrito, você tem que tentar descrevê-lo para saber como se sente. (Sem descrevê-lo) É como não ter identidade. Seus problemas e sofrimentos desaparecem. Eles se desintegram. Para ser mais radical, você se sente completamente exilado das outras pessoas. Você não pode se referir a nada porque nada foi descrito ou mencionado adequadamente. Você está sozinho.

(trecho do documentário "I'm So-So")

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Um haicai

distantes do sol
céu e prédios amanhecem
cinza-azulados com o
bocejo dos pássaros

terça-feira, 14 de julho de 2009

Um poema de Anna Akhmatova

Apertei as mãos sob o xale escuro...
"Por que estás tão pálida?"
- Porque hoje lhe dei a beber amargura
até que ele foi embora daqui embriagado".

Posso acaso esquecê-lo? Saiu daqui cambaleando,
sua boca torcendo-se dolorosamente...
Desci correndo, sem nem me encostar no corrimão,
corri atrás dele até o portão.

Angustiada gritei: "Tudo não passou
de uma brincadeira. Se fores embora, morro."
Sorriu docemente e, com um muxoxo terrível,
disse-me: "Não fique no vento".

8/1/1911
Kiev

(tradução de Lauro Machado Coelho)








Resolvi postar esse poema aqui no blog principalmente por gostar muito do seu sétimo verso, que tem a imagem que mais ficou na minha cabeça da minha leitura inacabada da Antologia Poética da poeta, lançada pela L&PM Pocket. Ainda fico espantado quando penso que apesar da distância geográfica e de tempo, uma poeta consegue construir uma imagem com tamanho poder de identificação pra alguém tão distante, no caso, eu.
Ainda não terminei o livro e dei uma parada na leitura esses dias, mas vira e mexe eu pego o livro dela da mesa e dou uma lida num poema aleatório. Até a parte em que eu lí, são todos poemas bem curto e concisos, linguagem clara e sem muitos adornos, como o que eu postei. Me faz lembrar do Villaça falando que "poesia, antes de mais nada, é feita de imagem". Ou algo assim.
Vale a pena também deixar o link pra um outro poema dela traduzido por André Vallias e Augusto de Campos AQUI, que foi o poema que fez com que eu conhecesse e me interessasse pela poeta.





Poemas à parte, acho essa foto da Akhmatova linda.

domingo, 5 de julho de 2009

Um haicai

ao fim de um dia nublado
o alaranjado ocaso
nada revela

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Segunda: 1:20h - 15°

Na verdade eu nunca parei pra pensar na imagem de um supermercado como um ponto de encontro de adolescentes, coisa que acontece bastante em Santos, no Extra - e provavelmente acontece em outras cidades também. Mas se esse fato fosse servir de símbolo de algo, imagino que não seria dos mais idealistas.

Mesmo assim, é bom ir lá de madrugada e ter um lugar tranquilo pra sentar e comer porcarias baratas, conversar sobre o tédio... E eu acredito mesmo que os jovens no supermercado e o tédio serve de símbolo pra algo dessa geração.

Mas até mesmo o Extra às vezes fecha, então eu e mais dois amigos fomos pra Praça da Independência (outro ponto de encontro rotineiro), que não tem muita coisa nem muita gente numa madrugada de segunda. Mas tem uma vista um pouco mais elevada da avenida e de outras ruas. Ajuda a pensar melhor. E a gente continuava conversando, quando, do nada, veio se aproximando um rapaz moreno, cabelos longos e cacheados, umas roupas meio largadas. Não tinha jeito de quem ia pedir dinheiro, muito menos assaltar. Falou que era um poeta, e que fazia poemas a partir da face das pessoas que ele encontrava na rua ou de uma palavra qualquer que a pessoa escolhesse, e perguntou se era do nosso interesse. Pedi pra ele fazer um a patir do meu rosto, ele pediu licença e foi pra um canto escrever.

De cara lembrei de uma cena do filme Antes do Amanhecer em que aparece um poeta que vendia poesias instantâneas sobre as pessoas também. Depois de alguns poucos minutos ele voltou com o poema. Eu pedi pra ele ler pra gente:




Tuas duvidas não são dubias


o ouro nao te doira
a vida do sentimento
mas reluz o brilho
da Lua
e até mesmo
o Sol que mais que
o ouro é vida
sabe que o descansar
da noite abriga tambem
as alcovas do não saber
e por ser o Sol pai da
vida tudo vê ao contrario
da Lua que confessa
em segredos teus
e dela o que jamais
reside em resposta
até que a timidez da tua face
te mostre onde descansa teu coração




Além do meu, ele fez mais dois poemas sobre os meus amigos, tão bacanas quanto o meu. Liberei uma grana e ele foi embora agradecendo. Fiquei com a impressão de que por mais que eu pudesse fazer críticas, eu não deixaria de estar impressionado como eu fiquei.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Um haicai

postes lado-a-lado -
a árvore amarelada -
ar-condicionado

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Uma noite

Ontem eu sonhei
com a gente indo na padaria
comprar pão
chocolate e suco
como dois órfãos
em uma cidade noturna.
Naquele sonho
nós não tínhamos pais.
E daquela cidade
silenciosa que se entregava aos
nossos pés eu te falei
quando amanheceu.
Aquele momento nela
em nossas memórias
resiste
sem uma interpretação que o comporte.
Assim como um momento qualquer.
Assim como você e eu
temos pai e mãe.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A crítica e a poesia

Nos últimos meses tenho lido bastante na internet sobre poesia contemporânea e acredito que este texto, se não for o melhor, está entre os melhores que eu lí sobre o tema nesse tempo:

http://www.sibila.com.br/2/index.php/critica/592-joao-adolfo-hansen-conversa-sobre-critica-e-literatura-brasileira-contemporanea

O texto é uma conversa/entrevista entre o Luis Dolhnikoff e o João Adolfo Hansen sobre poesia contemporânea, partindo da constatação do Dolnikoff de que há uma certa "pequenez generalizada" que toma conta da poesia contemporânea. E daí vai.

É difícil de tecer qualquer comentário do alto da minha leiguice de aluno de segundo ano de Letras, mas é de se estranhar a pouca quantidade, quase nenhuma, de críticas que apontem algo de negativo na obra dos poetas contemporâneos (o Dolhnikoff está mais pra exceção do que pra regra). A poesia deles vai sempre muito bem, segundo a crítica. Mas lendo a maioria destes poetas que ganham destaque nos mesmos sites de literatura de onde surgem os textos dessa crítica satisfeita ainda sinto que falta alguma coisa na poesia de muitos deles.

Mas isso é coisa pouca, o Hansen eleva a discussão à outros níveis. E é aí que a gente se sente leigo.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

eu andei deixando a barba crescer...
tava sem fazer nada em casa, na vida,
nesses tempos em que eu andei deixando a barba crescer...
saí de casa pra fazer o que tinha que fazer
e esqueci de propósito o guarda-chuva.
acho que a chuva me faz bem.
tinha resolvido tomar uma cerveja,
já estava de barba mesmo...
cerveja me faz lembrar dela... de uma música...
eu sei que tudo isso é meio egocêntrico,
autobiográfico,
poético,
só porque eu botei em versos
só porque eu saí de casa
assim, mais bonito
pra poder pensar melhor como ela é bonita,
e como eu ficava bonito assim, ao lado dela.

sábado, 23 de maio de 2009

Ensino médio


Foto: Ed van der Elsken


Vagueando pela internet outro dia encontrei essa foto no blog da Andréa del Fuego. Fiquei lembrando dos tempos de escola em que eu ficava dormindo num canto do pátio na hora do intervalo.