segunda-feira, 29 de junho de 2009

Segunda: 1:20h - 15°

Na verdade eu nunca parei pra pensar na imagem de um supermercado como um ponto de encontro de adolescentes, coisa que acontece bastante em Santos, no Extra - e provavelmente acontece em outras cidades também. Mas se esse fato fosse servir de símbolo de algo, imagino que não seria dos mais idealistas.

Mesmo assim, é bom ir lá de madrugada e ter um lugar tranquilo pra sentar e comer porcarias baratas, conversar sobre o tédio... E eu acredito mesmo que os jovens no supermercado e o tédio serve de símbolo pra algo dessa geração.

Mas até mesmo o Extra às vezes fecha, então eu e mais dois amigos fomos pra Praça da Independência (outro ponto de encontro rotineiro), que não tem muita coisa nem muita gente numa madrugada de segunda. Mas tem uma vista um pouco mais elevada da avenida e de outras ruas. Ajuda a pensar melhor. E a gente continuava conversando, quando, do nada, veio se aproximando um rapaz moreno, cabelos longos e cacheados, umas roupas meio largadas. Não tinha jeito de quem ia pedir dinheiro, muito menos assaltar. Falou que era um poeta, e que fazia poemas a partir da face das pessoas que ele encontrava na rua ou de uma palavra qualquer que a pessoa escolhesse, e perguntou se era do nosso interesse. Pedi pra ele fazer um a patir do meu rosto, ele pediu licença e foi pra um canto escrever.

De cara lembrei de uma cena do filme Antes do Amanhecer em que aparece um poeta que vendia poesias instantâneas sobre as pessoas também. Depois de alguns poucos minutos ele voltou com o poema. Eu pedi pra ele ler pra gente:




Tuas duvidas não são dubias


o ouro nao te doira
a vida do sentimento
mas reluz o brilho
da Lua
e até mesmo
o Sol que mais que
o ouro é vida
sabe que o descansar
da noite abriga tambem
as alcovas do não saber
e por ser o Sol pai da
vida tudo vê ao contrario
da Lua que confessa
em segredos teus
e dela o que jamais
reside em resposta
até que a timidez da tua face
te mostre onde descansa teu coração




Além do meu, ele fez mais dois poemas sobre os meus amigos, tão bacanas quanto o meu. Liberei uma grana e ele foi embora agradecendo. Fiquei com a impressão de que por mais que eu pudesse fazer críticas, eu não deixaria de estar impressionado como eu fiquei.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Um haicai

postes lado-a-lado -
a árvore amarelada -
ar-condicionado

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Uma noite

Ontem eu sonhei
com a gente indo na padaria
comprar pão
chocolate e suco
como dois órfãos
em uma cidade noturna.
Naquele sonho
nós não tínhamos pais.
E daquela cidade
silenciosa que se entregava aos
nossos pés eu te falei
quando amanheceu.
Aquele momento nela
em nossas memórias
resiste
sem uma interpretação que o comporte.
Assim como um momento qualquer.
Assim como você e eu
temos pai e mãe.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A crítica e a poesia

Nos últimos meses tenho lido bastante na internet sobre poesia contemporânea e acredito que este texto, se não for o melhor, está entre os melhores que eu lí sobre o tema nesse tempo:

http://www.sibila.com.br/2/index.php/critica/592-joao-adolfo-hansen-conversa-sobre-critica-e-literatura-brasileira-contemporanea

O texto é uma conversa/entrevista entre o Luis Dolhnikoff e o João Adolfo Hansen sobre poesia contemporânea, partindo da constatação do Dolnikoff de que há uma certa "pequenez generalizada" que toma conta da poesia contemporânea. E daí vai.

É difícil de tecer qualquer comentário do alto da minha leiguice de aluno de segundo ano de Letras, mas é de se estranhar a pouca quantidade, quase nenhuma, de críticas que apontem algo de negativo na obra dos poetas contemporâneos (o Dolhnikoff está mais pra exceção do que pra regra). A poesia deles vai sempre muito bem, segundo a crítica. Mas lendo a maioria destes poetas que ganham destaque nos mesmos sites de literatura de onde surgem os textos dessa crítica satisfeita ainda sinto que falta alguma coisa na poesia de muitos deles.

Mas isso é coisa pouca, o Hansen eleva a discussão à outros níveis. E é aí que a gente se sente leigo.